Walter Wiedemann

Depoimento – emocional e reflexivo – sobre minha Constelação Sistêmica/Familiar realizada em Brasília em 18 de Dezembro de 2010. Constelado: Walter Wiedemann Consteladores: Fausto Faria & Joana di Paoli. Condução: Joana di Paoli. Por Amor e para que este relato possa eventualmente mitigar o inesgotável sofrimento dos inumeráveis Seres, entrego este depoimento aos meus amados amigos e compassivos curadores, Fausto e Joana, para que dele disponham e se sintam desde logo livres para dar-lhe uso como melhor lhes aprouver. A questão trazida era relativa a relacionamento(s). Um casamento de aprox. 10 anos e que terminara a oito ainda causava-me transtornos psicoemocionais. As minhas projeções colocavam-me num pedestal de convicções da impossibilidade de toda e qualquer retomada da relação agora e em qualquer tempo futuro; jamais voltando a conter conotações afetivas íntimas. Mas não queria excluir a parceira de tantos anos partilhados conjuntamente da totalidade da minha vida. O que para mim de todo jeito é impensável, pois creio que nos meus registros d’Alma todo o pensar, sentir, falar e atuar no viver tem seu lugar e pulsa na Totalidade do Ser. Sigo querendo crer no belo dizer do Osho que o mais sublime amor é o amor amigo… O que não dava certo na minha acabada projeção é que a ex-parceira tinha seus próprios modos de lidar com a separação. Via-me muitas das vezes nos anos que se seguiram após a separação, envolvido nas minhas ações na vida – financeira, afetiva, na convivência e no desenvolvimento familiar, na caminhada espiritual – por um sentimento construído sobre provas “cabais”, sobre tudo sensitivas e disse-me-disses, de uma contínua ameaça vinda da antiga companheira. Algo nefasto pairava e agia na Terra e no Céu, a nível pessoal e familiar, procurando obstaculizar e inibir minha “livre” caminhada. Lidava com as chamadas forças do olho gordo, da inveja, do ciúme. Do apego. Diz-se que não tem trabalho espiritual que as desfaça. Talvez não no manejo do simbólico no concreto, mas creio que com a ressignificação amorosa dos conteúdos que alguns símbolos carregam se possa inibir ou mitigar esta projeção indesejada. Permanece o voluntário arbítrio do emissor, ou da emissora, na manutenção de tais sentimentos. Permanece o arbítrio do receptor, ou da receptora de ficar enganchado nesta frequência nos canais de contato. Claro, se um dos envolvidos se “blinda” no auto centramento, dá as costas e se afasta totalmente de tal campo, o outro se consome no seu intento e este foco de desarmonia pode desvanecer. Mas em mim campeava a paranóia. Eu me dizia: É. É doença. Estou enlaçado na neura. Esta doença, caracterizada por convivências marcadas por lutas de poder, de vencedor e vencido, pouco diálogo conectado e muita disputa psicológica-emocional e medo espraiava-se amplamente ao longo de todos os relacionamentos afetivos que vivenciara até então. Mas esta consciência não estava tão firme e clarificada em mim à época da Constelação. Apenas uma dolorosa e sofrida suspeita. Dolorosa, pois eu reproduzia na outra minha confusão e frustração, e sofrida, pois meu ego rebatia com orgulho qualquer sentimento de compaixão pela miséria humana que eu mesmo nutria e explorava. Ainda queria ter a razão da minha verdade nisto e a outra evidentemente a perda da razão de sua legitimidade. Quando pedi para que se constelasse “minha causa”, ainda queria a verdade recheada com minhas mentiras auto fidelizadas, queria uma arena de denúncias para as “pirações” da outra, em detrimento das minhas próprias. Queria esconder-me num manto de justiça e expor a outra desnudada de suas máscaras de boazinha e revelar-se nas suas insuficiências e culpabilidades. Desse desnudamento e desmascaramentos precisava eu. Mas resistia em assumir isto. Medo! … Do ridículo doloroso de reconhecer-me coartífice e ator protagonista no conflito. De assumir minhas ‘bolas’ e tocar minha vida adiante 100% auto responsabilizado. Assim até à hora de apresentar-me ao grupo e contar o caso, expectava de forma subliminar ratificar esta tragédia, e não retificá-la. Quando iniciei o relato surgiu na minha frente emocional um abismo de insegurança em relação a toda minha verdade interior. Comecei a perder a coerência e objetividade da minha apresentação. Procurava compensar a fragilidade acrescentando à minha voz uma ênfase nas convicções. Minhas cordas emocionais se retesavam e potencializavam uma subida de alguns graus na temperatura interior. Tentei envolver a Facilitadora-Condutora alegando ser desnecessário esmiuçar toda a novela; a Condutora que me perguntasse do que necessitava saber para obter os elementos precisos a Constelação. Eu tentava escapar das minhas responsabilidades. Consegui esboçar uma frase, de modo abrupto e autoritário, de que queria resolver neste caso exemplar, de uma vez por todas, minhas recorrências neuróticas nos relacionamentos… Intimamente construí a cena de solução em que ambos nos retirávamos em direções opostas do salão ganhando o infinito. Ela desmascarada e eu entronado no vitorioso… Ainda estava preso à armadilha embutida nas minhas expectativas em realizar o meu desenho e assim, exercer um controle dominante sobre a situação. A Facilitadora pediu-me que escolhesse dois representantes entre os participantes da Assistência. Convidasse um para me representar e outra para ela e os empoderasse nominalmente em seus papeis e colocasse a cena no seu ponto de partida. Coloquei os representantes acordados em posição frontal, estabelecia as condições para o confronto. Ao ser pedida a expressão do que se passava pelos seus sentimentos ao meu representante, este manifestava com uma fidelidade impressionante meus sentimentos – os assumidos abertamente e os ocultados. Fazia declarações chorosas e infantilizadas de amor mescladas com pusilânimes falas ratificando o fim da relação. Na assistência, sentia-me exposto e desconfortável. Uma irritação ia crescendo dentro de mim na medida em que a cena mantinha meu representante na berlinda e com isto as minhas fragilidades. Procurava me compensar pensando na minha vingança que se realizaria quando chegasse vez de dar vida à fala da representante escolhida para a ex-parceira. Nas internas atuava a minha neurose. Não estava verdadeiramente aberto e receptivo ao fluxo que seguia para a resolução no nível da Totalidade. Acontece que na condução da Constelação a representante da ex pouco era solicitada a se manifestar. Nas poucas vezes que foi solicitada a fazê-lo, corroborou as declarações de amor, expressava concordância com a separação e lançara-se nos braços do meu representante. Mas sua presença global denotava forte empatia com a pessoa representada – minha antiga companheira. Para mim, na assistência, parecia-me que a representante transbordava de possibilidades de falas que denunciariam “os podres” da representada. Mas o foco permanecia no meu representante. Necessariamente precisava ser assim. Hoje compreendo com clareza isto. Não era desta forma no momento cênico. Ainda não queria ver minha própria miséria. Não queria assumi-la plenamente. Ainda não compreendia “que a outra é a outra por ser a outra, e que eu sou eu por ser eu”. Queria continuar a crer que eu era assim por ela ser assim. Ainda atuava projetivamente. Finalmente foi solicitado ao representante que se movesse conforme sentisse a necessidade para tal. Ele deu as costas a ela que o seguia com olhar, e se dirigiu para fora da cena. Tudo parecia tão claro que a Facilitadora dispensou a tradicional substituição do meu representante por mim mesmo e deu a Constelação por terminada neste momento. Perguntou-me se estava bem assim. Eu estava perplexo. Eu queria gritar e dizer um sonoro não! Fiquei com ele entalado. Ia soltando a minha volta a insatisfação com o rumo que os acontecimentos encenados haviam tomado e uma raiva repleta de frustrações me totalizou. Não segurei a onda e demonstrei vigorosa e contundentemente minha frustração. Chegava a querer desacreditar da sapiência intuitiva da Facilitadora na condução da questão. Desencadeei um clima constrangedor de agressividade. Minha máscara de bonzinho caiu e o meu manipulador raivoso se manifestou. De modo pouco amistoso deixei os convivas e os Facilitadores e fui-me embora explodindo de raiva pela tampa. Mas havia um fio de luz que poderia trazer-me a compreensão que de fato minhas esperanças em dar cabo às neuroses nas minhas relações não eram infundadas. Através do meu representante eu dava internamente os primeiros passos para fora do circuito vicioso das relações de co-dependência. Na medida em que o tempo passa este fio de luz se transforma num feixe de consciência ampliada e vou-me auto-responsabilizando completamente pelo meu passado, presente e por vir, uma nova energia libertadora e mais saudável passa a pulsar nas minhas coronárias psicoemocionais. Passados quatro meses da Constelação da minha consciência relacional viva, vou ganhando melhor adequação afetiva. Uma nova e mais madura estatura interior vai se auto apreendendo. Novos contornos de compreensão vão de ampliando a cada dia, trazendo-me continuadamente maior discernimento dos padrões egoístas e destrutivos que eventualmente ainda possa carrear aos relacionamentos afetivos pessoais e no geral. Reconheço hoje, que a questão por mim trazida foi corretamente tratada pelos Facilitadores produzindo um aprofundamento da cura que tanto almejava. Os efeitos ainda se ampliam e se processam no sentido da liberação destes padrões pernósticos a cada dia que passa. Vai-se, aos poucos, mas com firmeza, a frustração pela não ocorrência do que ainda crio de expectativas e vai se instalando um fluxo vital mais aberto, criativo e espontâneo. Sinto-me profundamente grato pelo trabalho realizado. Gratidão aos pioneiros fundadores deste Sistema de cura, à dupla de terapeutas Consteladores, a Condutora, aos inspirados representantes M & T e às amigas e amigos da Assistência. Peço aos meus amigos e irmãos de caminhada, curadores de e da verdade, Fausto e Joana – neste caso especialmente a Joana, que me perdoem pela estupidez e pouca sensibilidade por mim manifestada á ocasião da nossa benfazeja Constelação. Espinhos da roseira. Traços de Amor no perfume. Walter Wiedemann Brasília, 24 de Abril de 2011 – Domingo de Páscoa.

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